COMO É QUE SE ESCREVE...?
Já vou deixar aqui bem claro. Escritora não sou. Poetisa... quem sabe? Eu... não sei... Só sei que escritora talvez nunca serei. Há inúmeras sensações e sentimentos que não consigo descrever, de tamanhos que não poderia jamais mensurar. Pois há palavras que não consigo encontrar... E não raramente, quando as encontro, eu me pergunto: Hã... Como é que se escreve?
Algumas vezes, lembro-me da palavra em Inglês, e a esqueço completamente em Português. E não me conformo! Acho que isso só acontece comigo... A todo instante, as palavras me fogem... Quando não elas, fogem suas grafias... e quando não estas, fogem o âmago dos seus significados, tão ínfimes... infinitamente insignificantes no meu interior. Então suspiro... Em minha própria língua, elas de mim fogem...
Ser poetisa é bem mais fácil! Não requer conhecimento, somente sentimento. Assim, quando não acho as palavras, eu as invento. Porque toda arte deve ser livre... uma criação alada. Posso dizer que meus versos são livres de certas regras de gramática... Inúteis, deprimentes. Algumas delas desejo não lembrar... E faço mesmo questão de as esquecer e, nos livros do meu belo país, desejo um dia não mais as encontrar. Depois de criar palavras, minhas invenções aladas, sopro sobre elas o sopro da poesia... sopro de vida! E as mando voar...
Escrever, na verdade, muitas vezes me deu pavor. Em testes e provas, uma página em branco ali, me esperando... ousadamente me desafiando... Ai! Sempre me fez tremer. Assim, nunca gostei mesmo de escrever. Pois constantemente me embaralho com as letras, com os verbos, as palavras... Não adianta, me embaralho... e vivo consultando o Sr. Aurélio, meu grande amigo dicionário.
Ah... Como é que é...? Como é que se escreve? Eu me faço essa pergunta frequentemente e me respondo... Não sei... Não sei! Só sei que sinto e não sei descrever... Sei que amo e nem sei como dizer! Convenci-me, finalmente... Dentre outras coisas, não sei mesmo escrever!
Gosto é de poetar... ou poetizar? Será ainda poetisar?! Com é mesmo que se escreve? Sei lá, só sei que me dá prazer. Gosto de esconder enigmas, palavrinhas e segredos nas entrelinhas. Às vezes, até encontro as palavras, mas prefiro não incomodá-las. Propositalmente, em muitos versos, simplesmente não escrevo. Deixo o nada... o vazio no ar... E permito somente o silêncio falar. Ele sabe, só ele, em um segundo, dizer mais de mil palavras.
Para um poeta, o silêncio é profundo e diz muito... e lindamente. E nos mais belos momentos da vida... sabe como ninguém ser eloquente...
Por isso, termino assim... em silêncio... Acredite, as próximas linhas e páginas em branco estão muito cheias... transbordantes de mim...
Mas me diz... Como é que se escreve...? E como escrever o que sinto? Não sei. Voei...
Mary Lyliand, Alada