O VELÓRIO
Aconteceu ontem. Impressionou-me. No fim da tarde, fui informada por telefone, pela Dna. Benedita, a senhora bendita que cuida do meu filho, que sua cunhada, a quem infelizmente não conheci, havia falecido há algumas horas. O corpo seria velado à noite, e o enterreno aconteceria hoje pela manhã. Ela me disse que essa cunhada fora encontrada caída em casa, desacordada, e levada ao hospital, onde ficou por seis dias em observação, devido a um grave derrame, culminando com sua morte. Tão de repente... Tão jovem... Tão triste...
Cheguei do trabalho. Tomei banho e me arrumei apressadamente para comer um lanche em algum lugar e ir ao velório. Pois, mesmo sem conhecê-la, e por mais cansada que estivesse, senti-me na obrigação de prestar minhas condolências à Dna. Benedita, que nos é tão querida, e à sua família, por grande estima e consideração.
Ao me aproximar do local, percebi de longe o quanto devia estar lotado pela quantidade de carros e movimento intenso de gente que o cercava. Chegando lá, movida pela curiosidade que me é natural, em mim já imanente, perguntei às pessoas sobre aquela mulher... Filhos? Casada? Onde morava? Por que a camiseta com a palavra "LOUVOR" estava sobre o caixão? Qual era seu nome...? E à medida em que ouvia cada resposta, cada fio de cabelo se me eriçava. E eu... cada vez mais petrificada... e amortecida ficava.
Estava ali... no caixão... ela... a quem eu nunca vira antes... Alguém estranho para mim, e estranhamente bem assim... da minha idade, também casada, também um filho lindo, morava no meu bairro, na rua ao lado. Cantava e ministrava louvores em sua igreja... E tinha... meu Deus!!! Não... Como podia ser?! o mesmo nome... "Meire"?! Esse, na verdade, é o meu apelido desde bebê. Ai, Senhor! Não parecia verdade... Estaria eu dormindo? Sonhando? Não importava o que fosse... Eu, como tantos outros, queria acordar. Como nunca nos vimos antes?! Quantas coincidências! Talvez tivéssemos sido grandes amigas...
E naquela altura da noite, caí em mim e me vi pousando ali. Naquele momento, vaguei distante no pensamento, e dois filmes passaram pela minha mente... Rapidamente o de tudo que já vivi; e muito lentamente o das emoções que ainda não senti. Este pareceu-me um eterno instante...
Outro fato que me chamara a atenção é de que ela falecera no dia do seu aniversário. E muito embora houvesse profunda tristeza na face de todos, a maioria composta por irmãos na fé, a paz pairava no ar, como um belo pássaro branco a voar suavemente por todo o ambiente... Deus se fazia realmente presente naquele lugar.
Disfarçando meu estarrecimento, prestei minhas condolências à família e me fui. Deixei o recinto, sentindo um turbilhão de estranhas sensações, e um grande pesar. Mas ao mesmo tempo imaginando como teria sido o encontro daquela mulher com Cristo, na glória, exatamente no dia do seu aniversário. Penso que Ele estaria no final de um lindo corredor formado por uma longa fileira de belos anjos lhe sorrindo. E Ele, revestido de todo resplendor, glória e majestade, com um presente brilhante em suas mãos para lhe entregar... a coroa, seu galardão, dizendo com voz tão terna... "Vem, filha muito amada, já te preparei morada. Receba o presente que lhe entrego neste dia... a vida eterna. Que lindo isto, não acha? É... deve ter sido mesmo... incrível! Indizível!
Custei a dormir... Depois de tudo, acordei! Sim, despertei para a vida. Porque enquanto em mim houver vida, há esperança para muitas coisas... E desde então, tenho apresentando a Deus, a todo instante, os meus tantos muitos sonhos. Alguns insanos, eu sei... Outros secretos, ninguém sabe... E há aquele insano e secreto... Só Deus sabe! Quem me dera realizá-lo antes de partir desta terra e voar para a eternidade...
Guardo todos eles em um baú, nas profundezas do meu coração, do qual só Deus e eu temos a chave. Somente Ele os vê. Só Ele os lê. Porque o coração de uma mulher é profundo como um oceano. De vez em quando, vou lá e coloco uns novos. De quando em quando, continuo escrevendo outros... Algumas vezes ao longo dos anos, cheguei a colocar um ponto final em alguns. Mas Deus colocou mais dois pontinhos e me disse baixinho "creia" e "continue"... Ele mesmo já foi lá e realizou uns. E sei que vai voltar a qualquer momento, e nesta vida ainda há de realizar... somente aqueles que farão bem a mim, e aos que vivem ao meu redor também (Amém!).
De alguma forma, a morte daquela Meire me fez acordar. Despertou em mim sonhos adormecidos. Ressuscitou os já enterrados. E reavivou esta Meire que aqui escreve; a que nesta hora, de joelhos, muito chora... Orando a Deus pelo conforto da família daquela mulher. Louvando pela vida dela. Clamando pela minha própria. E sonhando bem acordada. E como jamais me vi antes... E mais do que nunca.... muito, muito mais...
Um beijo... cheio de vida em sua alma.
Meire